Eu, sinceramente, não entendo o que leva um ser humano a
matar um animal sem motivos óbvios. Quem não é vegetariano, por uma questão
cultural, come carne; beleza, pra obter a carne você tem que matar um animal
(vaca, galinha, porco, o escambal..) enfim, você mata para se alimentar. É
certo? De forma alguma, mas como eu disse é cultural e quem é historiador, sabe
que os vínculos culturais que nos prendem são muito mais fortes do que nos
explica Certeau. E falando em cultura, eu juro, (eu JURO mesmo) que também
tento entender as touradas espanholas e os rodeios e vaquejadas brasileiros,
como eu já expliquei: cultura é cultura. Mas quem me conhece um pouquinho, sabe
do amor supremo que eu tenho pelos animais, todos eles, afago, dou comida, falo
com voz de idiota, ADORO bichos, então, sou suspeita para falar sobre casos de
crueldade com animais como o dessa enfermeira que matou o cachorrinho. Quando vier
a argumentar mais embaixo, vocês entenderão porque sou suspeita. Primeiro,
entendamos que a sensibilidade para com os animais também tem explicação
histórica, ao ler autores como Keith Thomas passamos a entender melhor as
relações entre homens e animais; para resumir, até o século XVIII os animais
eram mal tratados e serviam apenas como alimentação e diversão para o homem,
eram seres sem alma, que diminuíam o trabalho do homem e lhe proporcionam mais
dinheiro, tendo sua submissão expressa por Deus. Após esse período, vemos essa relação
se estreitar e vemos também uma maior sensibilidade por parte do homem para com
as animais. A imagem de que os animais têm alma e sentimentos surgem aí, assim
como as noções de companheirismos e lealdade. Após esse breve esclarecimento
histórico, partamos para o fato em si. O homem ficou muito mais sensível em
relação aos animais, sua figura divinizada e seus sentimentos quase humanos
geraram uma série de afinidades, logo, está historicamente (veja bem, até aqui
falei de HISTÓRIA e de CULTURA não de razão) explicado porque em casos como o
dessa enfermeira, há tanta comoção e mobilização em prol do bichinho. Acho desnecessário
dá maiores informações sobre o caso em si visto que a mídia já o explorou (como
sempre) demais, vamos seguir. É culturalmente natural, que as pessoas queiram
fazer com que ela pague pelo mal cometido, eu mesma fiquei indignada, com
vontade de mandar dar uma surra nela com direito a vários procedimentos teórico-metodológicos
(eu disse que eu era suspeita para falar sobre isso). É culturalmente natural,
mas não é nem um pouco racional, “olho por olho e o mundo acabará cego”
lembram? Fazer justiça com as próprias mãos não é certo, não é saudável e não é
honesto; temos uma justiça e suas leis (bem ou mal) e temos que esperar/nos
conformar com os desígnios que ela dará ao caso. É revoltante eu sei, o coitado
do animal (e eu me lembro do Thomas novamente) não tinha culpa, se ela não agüentava
mais ele, que tivesse dado, vendido, emprestado, qualquer coisa, menos matado. Ela
tirou uma vida inocente sem nenhum motivo justificável, o que será que ela faz
quando o filho dela chora? Tranca-o no guarda-roupa, chuta? E com um paciente
que pede água? Ela o sufoca com o travesseiro? Estar estressada não justifica
nada. Eu vivo estressada com tudo e isso não me dá o direito de descontar nos
meus alunos nem na minha família, cada estressado com sua gastrite atacada. Todo
mundo tem seus dias ruins, mas a crueldade não se justifica, assim como a
vingança também não. A meu ver é inadmissível o que ela fez espancar um ser
vivo até a morte ultrapassa a crueldade. Assim como ela, deve haver muitos por
aí que fazem isso, ela não é diferente dos donos de rinha de galo, ou rinha de
cachorro (com a diferença que eles fazem isso por dinheiro e eu, honestamente,
não sei se isso os deixa no mesmo patamar ou os fazem piores, mas o que quis
dizer foi em relação a crueldade), o ideal seria que as pessoas parassem de
maltratar e abandonar os animais e passassem a respeitá-los, a cuidar deles. No
meu mundo utópico e cor-de-rosa é assim que imagino a relação entre os homens e
os animais, onde os primeiros retribuíssem tudo àquilo que os segundos dessem a
eles.